Caminhos Literários
consulte aqui a agenda de eventos

Sobreiro de Montalvo

O velho sobreiro de Montalvo foi um marco, uma referência, um símbolo, enfim, um verdadeiro motivo de orgulho para a freguesia e para o concelho.

Com o seu porte imponente, o sobreiro de Montalvo, testemunho da vida local, impressionava quem passava pelo largo, com a sua dignidade de árvore secular, uma árvore notável do concelho.

Como todos os seres vivos, também o sobreiro teve um percurso de vida marcado pela nascença, pelo crescimento e pela morte.

Não obstante todas diligências efetuadas, com recurso a técnicos especializados, o sobreiro secou, tendo sido substituído pelo que vemos agora.

A 26 de março de 2003, honrando a sua memória e a sua história, no mesmo local foi colocada outra árvore da mesma espécie.

Sobre a partida da velha árvore e a chegada da nova - um texto de uma aluna do 4.º ano, da Escola do 1.º ciclo de Montalvo – Adeus, Sobreiro!

No dia 26 de março, o sobreiro de Montalvo foi cortado, pois já estava velho e muito cansado e acabou por morrer.

Ninguém sabe ao certo quantos anos tinha, pois nasceu sozinho, no terreno em que o proprietário era a Família Feijão. Então o sobreiro começou a chamar-se «Sobreiro Feijão» e agora a rua tem o nome de Júlio Feijão.

No dia do seu abate, toda a gente tinha uma cara triste e uma lágrima teimosa a escorrer pela face.

As máquinas iam cortando os ramos, um a um, ficando um tronco cada vez mais pequeno, parecido com um banco.

Enfim! A vida tem de tudo, surpresas agradáveis e desagradáveis, alegrias e tristezas…

Passados alguns dias, veio um camião enorme que transportava outro sobreiro novo com folhas redondas e miudinhas.

Quando olho para o novo sobreiro, lembro-me das conversas longas com os amigos, das brincadeiras em volta do velho sobreiro, das reuniões tontas com os colegas, dos encontros com estes, quando não os via há muito tempo e dos dias calorosos, quando me deitava na relva à sombra dele.

…momentos de sonho da minha infância.

Adeus, sobreiro!

Ana Serra


PÁG. 55

[Onde, José Luís Peixoto]

As árvores são uma das grandes metáforas. Oferecem-nos uma estrutura para entender a constituição do mundo: raízes, tronco e ramos. Três elementos que, quando repetidos, podem sugerir uma música: raízes, tronco, ramos. Oferecem ritmo: raízes, tronco, ramos. Mas também são uma medida para tudo o que acontece: raízes, tronco, ramos. Material ou imaterial: raízes, tronco, ramos.

Todos os gestos podem ser comparados com árvores: causas são raízes, atos são troncos, consequências são ramos. Todos os caminhos podem ser comparados com árvores: partiram das raízes, estão no tronco, dirigem-se aos ramos. As histórias são árvores. A vida é uma árvore.

A vida é este sobreiro. As melhores metáforas são concretas e orgânicas, não são exemplos ou artifícios, maquetes de retórica. Por isso, as raízes da metáfora estão envoltas em terra, com humidade e cheiro a terra. Para tocarmos as raízes, precisamos de dispor-nos a sujar as unhas. O tronco da metáfora é o tronco deste sobreiro, rugoso e real. Sem ajuda, não temos braços suficientes para envolver o tronco. Os ramos da metáfora são estes, o céu por cima deles, também uma continuação da metáfora, porque o significado das árvores, desta árvore, não prescinde do significado do céu, da terra e de tudo o resto. Esta árvore, como todas, agarra-se ao mundo. O mundo é inseparável das árvores.

O sobreiro é uma das árvores mais caraterísticas da paisagem da região. Espécie protegida e instituída como árvore nacional de Portugal. A cortiça extraída de 9 em 9 anos tem muitas utilizações industriais e artesanais.