

Praia Fluvial da Lapa
Descendo dos Moinhos e à saída da Aldeia, encontra-se um local paradisíaco, a Lapa. Um espaço que convida ao lazer e ao contacto com a natureza nas margens da ribeira da Arecês. Na margem direita da ribeira pode-se observar a Capela de Nossa Senhora da Lapa, que mergulha as suas raízes num passado longínquo, de tal modo que a tradição trouxe até nós memórias de lutas com mouros, que documentalmente não se podem comprovar. Seja como for, já por volta de 1600 o culto da Senhora da Lapa tinha atingido grande difusão. Foi por essa altura que se ergueu a Capela em que passou a ser venerada a imagem da Nossa Senhora da Lapa.
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Debaixo de água, existe um mundo. Aqui, estamos rodeados por acontecimentos, escutamos os sons que produzem, distinguimos cores. Da mesma maneira, lá, existem sons que atravessam a água, cores filtra- das por ela, acontecimentos submersos. Aqui, temos este céu, por cima da copa das árvores, por cima do vento que trespassa os ramos, por cima do canto dos pássaros, até dos seus voos. Da mesma maneira, lá, existe um céu, incandescente de dia, negro de noite. Essa é a fronteira que nos separa. Vista daqui, a superfície da água é um terreno diáfano, vítreo, a brisa varre-lhe uma textura às vezes. A sua transparência límpida dá-nos a ilusão de que sabemos tudo sobre o seu interior. A partir de lá, de dentro, essa mesma superfície é uma presença permanente, como o céu sobre nós.
Debaixo de água, estas palavras estão escritas noutra língua, num alfabeto que não conseguimos ler. Da mesma maneira que estamos aqui a imaginar, poderemos estar lá a ser imaginados. Desconsiderar essa hipótese é cortar potencial, reduzir o universo, é uma forma de ignorância.
Desde que brota na ponta de um ramo, viçosa, uma folha existe altiva, olha para este céu, julga pertencer ao ar. Num dia igual a outros, apenas com um pouco mais de vento, desprende-se do ramo, paira durante segundos e cai na água. Então, abismada, passa a ser de lá, tem de aprender tudo de novo.