

Praça Alexandre Herculano
- Constância
- 39.474752, -8.339065
Até 1833 existiu neste lugar a Igreja de S. Julião, antiga matriz de Punhete (atual Constância). As frequentes cheias do Tejo e do Zêzere, que foram degradando o edifício, e a destruição causada pelas invasões francesas ditaram a demolição do velho templo.
Tendo funcionado durante séculos, em épocas anteriores ao liberalismo e aos cemitérios civis, a antiga matriz e o seu espaço envolvente serviram de sepultura a gerações e gerações de habitantes da vila. É essa a razão por que é tão fácil e tão frequente encontrar ossadas cada vez que, por motivo de obras, se mexe no subsolo da praça.
No espaço deixado livre organizou-se a então designada Praça Nova, assim chamada para se distinguir da antiga Praça do Pelouro Velho que deixou de existir. O atual pelourinho foi fabricado de novo, em 1821, graças a uma subvenção de 200 mil réis do rei D. João VI, e era um símbolo da autonomia e da justiça municipais.
O nome de Alexandre Herculano foi-lhe dado pela Câmara Municipal em março de 1910, em homenagem ao grande historiador.
Apesar das cheias, algumas das quais, de dimensões impressionantes, que se encontram marcadas na esquina com a Rua Luís de Camões, a Praça desempenhou até bem recentemente o seu papel de centro cívico, político e económico da vila e continua a ser a sua principal sala de visitas.
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As pedras desgastam-se um pouco mais de cada vez que alguém as pisa. Até na transparência do ar fica sempre alguma coisa de quem passa. Em tanto invisível, apenas distinguimos o que conhecemos, ou porque o vimos a acontecer, ou porque sabemos que existiu, mas tudo o resto também está lá.
Em 1821, este pelourinho substituiu outro que foi destruído durante as invasões francesas. Como um gesto de Napoleão à distância, esses soldados antigos derrubaram pedras que ali estavam há muito tempo. Depois, noutro dia, outras pessoas ergueram este pelourinho. Em silêncio, se prestarmos atenção à memória que nos antecede, podemos escutar o estrondo desses blocos de granito a desmoronarem-se. Podemos também escutar o ruído das ferramentas e das vozes durante a construção. Podemos mesmo dar alguns passos, ir até ao pelourinho e encostar a mão à pedra, sentir as estrias da sua rugosidade.
Todos os constancienses passaram aqui e, nesta transparência, ficou alguma coisa de cada um deles. Qualquer constanciense que seja recordado por alguém pode ser distinguido a atravessar esta praça. Pensem num nome, de certeza que passou aqui. Um pouco do desgaste destas pedras deve-se à passagem dessa pessoa.
Estamos no lugar que pertenceu a todas essas pessoas e que, agora, nos pertence. Somos visíveis, mas contemos muitos segredos. Somos como este pelourinho a pensar no pelourinho que cá estava antes.
Agora é hora de degustar e deliciar-se com o doce tradicional de Constância – Queijinho dos Céu, que poderá encontrar em qualquer um dos cafés da praça.
A 70 metros poderá encontrar dois locais com textos de José Luís Peixoto – o Jardim-Horto de Camões, da Rota Natureza; ou ainda as Escadinhas do Tem-Te Bem, da Rota Espiritual e Contemplação.