

Parque de S. Lourenço
- Abrantes
- 39.475363N, 8.216636W
À entrada de Abrantes, junto ao quartel e antes de virar para São Lourenço, aprecie a monumental escultura “Portas de Abrantes”, de Charters D’Almeida, inaugurada no centenário da cidade, em 2016, celebrando o tempo entre passado e futuro.
PÁG. 117

Existimos ao mesmo tempo uns dos outros para fazermos barulho. Precisamos dessa distração. Interrompemos o silêncio porque não aguentaríamos estar de igual para igual com a natureza, em absoluta serie- dade e consciência. Existimos ao mesmo tempo uns dos outros para sermos manchas que observamos à distância. Em vez de assistirmos ao toque ligeiro do vento nas pernadas dos pinheiros, seguimos com curiosidade os gestos de alguém lá ao fundo. Dentro de nós, entretemo-nos com uma pergunta: o que andará a fazer?
Não aguentaríamos a segura imobilidade de um pinhão no interior de uma pinha, um coração dentro de outro coração. Não aguentaríamos tudo isto: a cor do dia a transformar-se tão devagar e, no entanto, definitiva, irreversível.
Existimos ao mesmo tempo uns dos outros. Dessa maneira, somos salvos por imperfeições, hesitamos perante a beleza trágica da natureza, constantemente a nascer e a morrer, intensa até numa folha de erva, lâmina verde e anónima, multiplicada por mil vezes mil.
Existimos. E temos a arrogância, ignorância, de nos considerarmos mais importantes do que um pinheiro. Como se a seiva de cada uma destas árvores não fosse sangue, como se os ramos não fossem braços estendidos ao mundo, como se as agulhas dos pinheiros não tivessem a força de palavras, pensamentos. Sabemos que existimos ao mesmo tempo, eu aqui, tu aí. Agora, deixemos a natureza falar.
O Parque Urbano de São Lourenço possibilita atividades de recreio e lazer em contexto de natureza. Dispõe de cafetaria e restaurante, percursos pedonais, ciclovia, circuito de manutenção, parque infantil e de merendas, parede de escalada e um lago.
Ao lado fica a manuelina Ermida de São Lourenço, classificada como imóvel de interesse público. A sua primeira referência documental é de 1430 e a construção atual, com evocação a São Lourenço, é do século XVI. Cerca de 1569 foi transformada em hospital. Conserva o altar-mor com azulejos mudéjares e um pórtico exterior em arco de volta perfeita, com jambas coroadas de esferas com a cruz de Malta. É possível visitar o interior contactando a Junta de freguesia de S. Vicente.