Caminhos Literários
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Outeiro de S. Pedro

O Outeiro de S. Pedro é o próximo destino. Pequeno reduto militar situado nas imediações do castelo, é um dos locais de onde é possível desfrutar magníficas paisagens sobre o Rio Tejo e a margem sul.

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[Onde, José Luís Peixoto]

Aqui: a consciência profunda de estar aqui, a consciência mais profunda de que somos capazes. Tentamos manter todos os sentidos despertos, mas, quando dedicamos atenção especial a um deles, os outros perdem intensidade. Fecha os olhos agora, repara naquilo que estás a ouvir, a sentir. Não tentarei descrever o que te rodeia, basta que observes os teus próprios sentidos. O que ouves agora? Qual a temperatura deste momento? Responde mesmo a estas perguntas. Inspira fundo. De olhos fechados, descreve-me o que te rodeia.

Os sons próximos, os sons distantes. A hora do dia assinalada pela espessura do ar que te toca a pele. A firmeza da terra que te sustenta. Não abras os olhos ainda. Perceciona tudo o que podes imaginar a partir desses indícios que chegam a ti. Quais as fontes específicas de cada um destes sons? O que têm de atravessar entre esse ponto e este ponto? Responde mesmo a estas perguntas. São uma oportunidade de reparares no que te rodeia e que ignoras quase sempre.

Aqui é um lugar que só existe agora.

Ainda de olhos fechados, atenta na maneira como o que sabes transforma o que sentes. Não tenho mais perguntas para fazer-te. Mas antes de me remeter ao silêncio condestável da pedra, para que não haja falsidades entre nós, quero dizer-te: sei que não fechaste os olhos. Caso contrário, como estarias a ler estas palavras?


Neste pequeno morro, de ancestral uso militar, terá sido o local do primeiro assento da Igreja de S. Pedro, daí o topónimo, cuja existência é atestada através de um documento de 16 de julho de 1301.

Terá sido aqui que D. Nuno Álvares Pereira acampou com as suas tropas, antes de partir para a batalha de Aljubarrota com D. João I, em agosto de 1385. Em sua homenagem ergueu-se em 1968 um monumento, com arquitetura de Duarte Castel-Branco e uma escultura de Lagoa Henriques, entretanto desaparecida.

“Aqui é um lugar que só existe agora”, mas onde o presente sempre construiu o futuro. É um dos lugares onde está o coração de Abrantes a bater pelo destino de Portugal, como em 1385.