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Mosteiro de Nossa Senhora da Boa Esperança

Solar setecentista de uma das famílias mais rica de Montalvo, foi doado à Diocese de Portalegre com o objetivo expresso de nela se instalarem as Irmãs do desagravo, seguidoras de Santa Clara de Assis, passando assim de habitação para Mosteiro de Nossa Senhora da Boa Esperança em 1980.

As Irmãs Clarissas levam uma vida de clausura e têm, por isso, pouco relacionamento com o mundo exterior.

Pegado com o mosteiro encontra-se a Capela de S. João Baptista – um templo privativo e panteão da família, datado da segunda metade do século XVIII.


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[Onde, José Luís Peixoto]

Uma casa que se transforma em mosteiro não deixa de ser casa. Tem paredes, portas, janelas, todos os recursos de casa, é habitável. São os nossos olhos que a transformam. Respeitar não é destituir os elementos da sua função natural, recusar-lhes a sua identidade mais evidente. Elevar não é descaracterizar. Um mosteiro é uma casa, tal como uma pessoa continua a ser pessoa, apesar da farda, uniforme ou hábito, apesar do título, apesar da intenção com que se imbuiu ou que lhe atribuíram.

Passamos por esta rua de Montalvo, diante desta casa, olhamos para a cruz no topo da capela, o céu em fundo. Se hoje é um dia de céu limpo, podemos imaginá-lo com nuvens, essa foi e será a sua realidade noutros dias, tão verdadeiros como agora mesmo. Se hoje é um dia de nuvens, também portuguesas e ribatejanas, não podemos viver apenas com o fácil, somos capazes de imaginar o céu azul de outras horas e estações, temos a certeza de que existe, sabemos, não é apenas uma questão de esperança ou fé, recordamos esse céu.

Somos algo que foi outra coisa. Seremos ainda muito mais, tanto o que sonhamos, como o que nos apanhará desprevenidos, surpresa que não saberemos logo avaliar. Essa é a primeira condição de estarmos vivos, estamos em movimento e, por isso, em transformação. A casa transformou-se em mosteiro. A seguir, em que se transformará o mosteiro?

Devido à vida que levam quer o mosteiro, quer a capela não estão abertos ao público, mas se por ventura tiver a sorte…espreite e peça às Irmãs para provar os famosos Queijinhos do Céu ou Morenos, feitos pelas suas delicadas e envelhecidas mãos.