

Miradouro do Cristo Rei
- Abrantes
- /
- Matagosa
- 39.62321N, 8.177733W
Numa cota elevada a duzentos e cinquenta e seis metros, conhecida localmente como Castelo do Almirante ou Pico do Castelo e mais comumente como Miradouro do Cristo Rei, após percorrer o caminho florestal que dá acesso à elevação do Pincho, chegamos a um local de extensas e deslumbrantes paisagens sobre a floresta e um braço da barragem de Castelo de Bode, com um monumento dedicado a Cristo Rei, à mulher portuguesa e aos navegadores e aviadores, que muitos desconhecem.
Confluência de concelhos, o pequeno espaço murado que envolve o miradouro divide-se entre a freguesia de Carvalhal (Abrantes) e a de Santiago de Montalegre (Sardoal). A escada de entrada fica em Sardoal, o marco geodésico, o monumento a Cristo Rei e o interpretador de paisagem ficam em Abrantes, concelho promotor da obra, em 1974, sob proposta do almirante Prior, de Matagosa.
Junto da confluência da Beira Baixa com o Ribatejo, da fronteira do Distrito de Santarém com o de Castelo Branco e ainda dos concelhos de Abrantes, Sardoal e Vila de Rei, no miradouro do Cristo Rei o que é mesmo importante “é a oportunidade de vermos o que imaginamos”.
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Imaginamos o que vemos, imaginamos a paisagem que temos à nossa frente. O nosso olhar cobre largas extensões de verde, acreditamos possuí-las por momentos e, no entanto, cada planta tem um nome. Há tanta vida que ignoramos entre um e outro ramo, entre uma e outra folha. Lá ao fundo, debaixo de todos os verões e invernos, como debaixo do nosso olhar, a albufeira. Quanta vida submersa existe no interior dessa superfície brilhante? E também o céu, o horizonte, as estradas, caminhos por onde passa gente. E a Matagosa, e a gente da Matagosa, história e histórias, casas dispostas como peças, vida em cada rua, debaixo dos telhados, através das chaminés. Imaginamos o que vemos porque a realidade é imensa, bastante maior do que conseguimos ver e, por isso, mesmo quando vemos muito, até num miradouro, precisamos de imaginá-la.
Esta distância é paralela a outras, que também imaginamos. O passado tocou-nos, ainda somos capazes de senti-lo nas mãos, trazemos restos do passado agarrados à pele e, mesmo assim, só somos capazes de imaginá-lo a partir do que sabemos. O que desconhecemos é a oportunidade de vermos o que imaginamos. Dessa maneira, tornarmo-nos desmedidos.
Crescemos sempre que descolamos o queixo do peito. De uma só vez, mais depressa do que um esta- lido, a distância mostra-nos que há muito mais do que apenas aqui, há muito mais do que apenas agora. A distância é bonita porque nos desafia.