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Jardim António Botto

O Largo do Chão da Eira, em Concavada, espaço central da aldeia, congrega diversas referências à terra do poeta António Botto, como o seu busto ali presente. Procure perto o mural de arte urbana pintado por Samina em homenagem ao poeta, contista, dramaturgo e escritor epistolar, inaugurado na data em que se comemoraram os 125 anos do seu nascimento. 

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[Onde, José Luís Peixoto]

Esta é a fonte onde o poeta matou a sede da infância. As ruas da Concavada como um poema, significado a ressoar desde o mais fundo do sempre. Às vezes, a poesia é a loucura arrumada em versos, palavras que se parecem com os seus sinónimos, mas que, ao serem lidas, nos puxam para um lugar com outra lógica.

O poeta era uma criança nestas ruas. A poesia que transportava era a mesma que existe no rosto de todas as crianças da Concavada, crianças de agora e de todos os tempos. Para elas, estas ruas são como versos alinhados numa página, hão de levá-las para todos os lugares onde forem, lá na capital, lá no outro lado do oceano.

Também a memória da Concavada é uma fonte. Nessa bica, mata-se a sede de todas as idades. Casas e arvoredos como um poema que ecoa até ao sempre mais longínquo. Às vezes, a poesia é uma loucura tão lúcida que chega a dizer o que ainda ninguém sabe.

A Concavada será provavelmente a continuidade dos povoados pré e proto-históricos assentes na margem esquerda do Tejo, entre Tramagal e Pego, posteriormente assentes na variante da via romana Lisboa - Mérida, passando por Scalabis, Tubuci e Aritium Vetus. Um troço da via estabeleceria da Idade Média ao século XX a ligação da Concavada ao antigo porto fluvial, onde ainda subsistem várias ruínas de construções de apoio, fronteiro ao filipino Canal de Alfanzira, na margem norte do Tejo, notável infraestrutura de navegabilidade do rio.

António Botto (1897-1959) nasceu no Casal da Concavada e a sua vasta obra poética foi admirada por Fernando Pessoa, que sobre ela escreveu vários ensaios.