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Igreja de Nossa Senhora dos Mártires

A atual Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Mártires, desempenha essa função desde 1833. Antes a matriz situava-se na zona baixa da vila, que devido às constantes cheias encontrava-se muitas vezes fechada, sendo necessário mudar o local de culto. Estas frequentes inundações levaram à sua degradação e quase inutilização da referida Igreja de S. Julião. Já, no século XVII, as gentes de Constância tinham pedido ao Bispo da Guarda para autorizar a construção de uma nova igreja onde as águas não chegassem. O local escolhido foi este; aqui apenas existia uma pequena capela, mas que contava com “grande romaria”. A construção prolongou-se durante vários séculos, tendo por isso vários estilos.

De estilo essencialmente barroco, mas já com algumas tendências do Rococó, é um templo de uma só nave com 8 capelas laterais – uma delas dedicada a Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira dos Marítimos. Possui ainda uma galeria, um púlpito, um coro com um órgão do século XIX, 6 estátuas do escultor António de Pádua, uma pintura do pintor Domingues Sequeira, e a única pintura de teto do mestre José Malhoa.

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[Onde, José Luís Peixoto]

Lá em baixo, num barco do rio, está alguém a olhar nesta direção. A partir desse ponto, somos demasiado pequenos, indistintos de minúcias. Por isso, pertencemos à ideia desta igreja matriz, somos pessoas imaginadas aqui.

Entre nós e o rio, como palavras ou silêncio, estão as casas. Vistas lá de baixo, são casas brancas, sobrepostas em fileiras irregulares, hipótese de um labirinto de ruas; e a igreja sobre a vila, de encontro ao céu, uma coroa. Vistas daqui as casas são telhados, alguns sons avulsos que sobem até nós, também o rio, também a lonjura que o ultrapassa; e a igreja, fachada erguida ao nosso lado, tão concreta e nítida, edifício. Olhamos a igreja de fora e imaginamos o seu interior.

Lá em baixo, no rio, alguém olha nesta direção e interroga-se: o que estarão pessoas a fazer agora no largo da igreja? A resposta a essa pergunta é o que somos para quem está num barco a imaginar-nos.

O que estará alguém a fazer agora num barco lá em baixo? Para nós, entre a paisagem, essa pessoa é a resposta a esta pergunta. Nós para os outros, os outros para nós, imaginamo-nos. Da mesma maneira, aqui fora, imaginamos a nave da igreja, imaginamos os retábulos setecentistas das capelas laterais, imaginamos as cores, os traços e os detalhes da pintura de José Malhoa. Sabemos que existe, está lá dentro, depois destas paredes.

Sabia que Sant´Ana era avó de Jesus Cristo? Desça a rua de Sant´Ana e pare junto à capela em frente ao cruzeiro, símbolo religioso que indica o caminho para o templo.