

Fonte dos Touros
- Abrantes
- /
- Rossio ao Sul do Tejo
- 39.450308, -8.188944
A Fonte dos Touros, na margem sul do Tejo, é seiva dos acontecimentos que tiveram o rio como testemunho. Assim designada por se localizar em antigas pastagens e bebedouro destes animais, é um ótimo exemplar de fonte de mina, aparelho de água rústico e sóbrio, hipoteticamente construído no século XIV.
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Seria demasiado fácil se, nas suas três letras, a palavra rio contivesse a ideia real e nítida do que é um rio como este. Em auxílio da fonética, podemos alongar a sílaba ao pronunciá-la e, assim, tentar exprimir a perceção de água que flui, que se afasta lentamente ou, do mesmo modo, exprimir talvez o que seria se fôssemos nós a afastarmo-nos, cada vez mais longe, o que seria se fosse a margem a correr diante do rio parado. Alheia a esses dilemas, a seiva corre no interior de todas as plantas que nos rodeiam. A seiva não questiona a direção que segue, é uma continuação do rio. A água corre sobre a terra, no leito que lhe foi destinado e, por regra da mesma natureza, atravessa raízes e faz o seu caminho no interior das plantas. Tanto nas árvores de grande porte, do tronco aos ramos mais ínfimos, como nas ervas menos notadas, anónimas durante toda a sua vida.
Não possuímos palavra para esse rio que corre dentro das plantas, também ele enorme, embora dividido, Tejo secreto. Seria demasiado fácil se as letras conseguissem dizer o que é estar aqui, ver e imaginar. A fonética não nos salva. Mesmo raspando a consoante no céu da boca, a palavra rio continua a ser apenas o seu som. A ortografia também não nos salva, três letras escritas. Para entender a palavra rio, precisamos de já ter estado diante de um rio.
Outra marca do tempo são os Mourões, 16 pilares remanescentes da ponte de barcas construída em 1809, na época das Invasões Francesas, uma de muitas do mesmo género que ali existiram desde a Idade Média.
Como escreve José Luis Peixoto “Não possuímos palavra para esse rio que corre”. Muito podemos discorrer sobre o Tejo, contudo, basta observar a paisagem: o “cabeço” sobranceiro da cidade velha, encimado pelo castelo, a ponte ferroviária do gabinete de Gustave Eiffel, de 1889, antecedida pela rodoviária de 1870 e o tráfego rodoviário subsequente que contribuiria para o declínio da navegação fluvial do mais importante porto interior do país, da Idade Média ao século XX, onde por volta de 1920 ainda aportavam cerca de 40 barcos com mais de 20 toneladas.
Nas últimas décadas, o arranjo paisagístico e ordenamento das margens do rio, deram origem ao Aquapolis - Parque Urbano Ribeirinho de Abrantes, transformando as duas margens em lugares de lazer de eleição, complementados pelo Parque Tejo, um espaço de exposições, campismo e apoio ao autocaravanismo, que integra conteúdos interpretativos do rio no território abrantino e onde um simulador permite uma viagem aérea virtual sobre o mesmo.