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Escola Adães Bermudes

Foi o primeiro edifício construído de raiz no concelho para escola. Obra do Estado, começou a funcionar em 1904, conforme atesta a data na chaminé.

Inicialmente serviu apenas como escola masculina. A escola para as raparigas, construída atrás, foi uma iniciativa do professor Manoel Vicente Nogueira que custeou do seu bolso grande parte das despesas e a ofereceu à Câmara Municipal. Algumas meninas de Montalvo puderam assim passar a ir à escola a partir de 1921.

O edifício principal, como era costume na época, foi concebido para dispor, para além da sala de aula, de instalações, embora exíguas, para o professor no primeiro andar. Vários professores e professoras viveram nesse espaço ao longo do século XX.

Por terem sido, entretanto construídas outras escolas do 1.º ciclo em Montalvo, ficou esta a ser conhecida por Escola Velha. Mas é igualmente designada Escola Adães Bermudes, o nome do arquiteto que a projetou – o mesmo que concebeu o monumento ao Marquês de Pombal, colocado na Rotunda, em Lisboa.

Atualmente o edifício serve de apoio à comunidade local no âmbito de projetos sociais.

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[Onde, José Luís Peixoto]

Eram crianças à mercê de palavras que as dirigissem numa ou noutra direção, como rios perante o seu leito potencial. Felizmente, havia o quadro, o giz e as brincadeiras do recreio. Nesta escola de Montalvo, desde 1904, receberam ensinamentos que levaram para usar na vida. Sorrir foi a lição mais importante.

Mas a idade propõe caminhos enviesados. Quando alguém parece que nunca foi criança, é porque se afastou da sua humanidade essencial. Os títulos hierárquicos e a rispidez mal-encarada são defesas. Os mais protocolares são os que têm mais medo. Mas não chega para esconder o óbvio: até os empedernidos foram crianças um dia. Também eles chegaram a esta escola de Montalvo com toda a candura selvagem. A fragilidade é a força das crianças.