Caminhos Literários
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Confluência dos Rios Tejo e Zêzere

Aqui se encontram os rios, abraçando-se por fim. Nas suas margens nascem frondosos salgueiros com convidativas sombras. Existe, para quem deles quiser desfrutar, um parque de merendas, um parque infantil, esplanadas, restaurantes e pode ainda quem o desejar refrescar-se na praia fluvial.

Apesar da calma aparente que os rios habitualmente transmitem, a verdade é que, de quando em vez, o leito galga as suas margens e invade o espaço dos homens, parecendo reclamar terras que outrora já foram deles. Podemos encontrar marcas dessas cheias na esquina da rua Luís de Camões, ou em fotografias no Museu dos Rios e das Artes Marítimas.

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[Onde, José Luís Peixoto]

Um rio que se mistura com outro rio, como luz que se mistura com luz, sombra com sombra, como um nome que se mistura com outro nome, tempo com tempo, como um olhar que se mistura com outro olhar, o olhar de uma pessoa que se cruza com o olhar de outra pessoa e, a partir de certo ponto, se dirigem no mesmo sentido. Dois rios, um rio, como um pensamento que se mistura com outro pensamento, no interior de uma cabeça ou em duas cabeças diferentes, como estas palavras que escrevo ou escrevi e, agora, existem na tua leitura, na tua compreensão, no significado que lhes dás. Um rio que se mistura com outro rio, quem poderá separá-los?

Ninguém. No mundo, não existe força ou competência capaz de separar duas gotas de água que decidem fundir-se. A partir daqui, Tejo e Zêzere são inseparáveis, independentemente do nome que escolham chamar-lhe. Eram plural, ou plurais, e quiseram transformar-se em singular. Foi Constância, esta terra, que lhes permitiu concretizar esse desejo. Há muito que avançavam na direção um do outro. Eram duas correntes e juntaram-se. Agora são apenas uma. Dois rios, um rio, como uma memória que se mistura com outra memória e, a partir desse instante, passam a ser contemporâneas, guardiãs da mesma verdade profunda, portadoras da mesma vida.

Aqui ao lado visite o Jardim-Horto de Camões, ou experimente uma refeição típica da região, ou ainda, passe pela Praça Alexandre Herculano e delicie-se com os nossos Queijinhos do Céu.