Caminhos Literários
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Centro Cultural Gil Vicente

Inaugurado em Setembro de 2004, o Centro Cultural Gil Vicente é um pólo das artes e da cultura no concelho e na região, que ganhou o nome do dramaturgo em virtude da sua ligação histórica com o Sardoal.
Dispõe de auditório multimédia com 200 lugares sentados, sala multiusos com capacidade para 70 pessoas, camarins, espaço de ensaios, sala de projeção e galeria de exposições.

Desde a sua inauguração este espaço de excelência tem sido "o menino dos olhos" dos sardoalenses, que há muito sentiam saudades de uma sala de espetáculos com dignidade e condições para acolher peças de teatro, concertos e cinema (o que não acontecia há 28 anos).

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[Onde, José Luís Peixoto]

Como se o anjo chegasse pelo seu próprio pé, avançando por aquele passeio, vindo das páginas do Auto da Barca do Inferno e aqui, considerando a entrada do edifício que temos à frente, declarasse: Não se embarca tirania neste batel divinal. Bastaria tal frase para lhe reconhecermos traços arcaicos, para lhos prolongarmos pelo silêncio angelical que se seguiria e, principalmente, para nos deixar enredados na pergunta: o que é a tirania?

Em busca de resposta, teríamos de definir conclusões sobre o justo e o injusto, o bom e o mau. Então, exatamente aqui, ao esperarmos que nos fosse concedida entrada, esse anjo de cinco séculos haveria de lançar-nos em debates com os abismais enigmas do ser humano, tão de hoje como do dia do seu nas- cimento, tão de hoje como do começo do mundo.

Estaríamos nós da maneira que estamos, mortais e banais, normais e habituais, usuais e triviais, e estaria o anjo, alto, baixo, gordo, magro, com quantos rostos

tiveram os atores que fizeram de anjo em representações do Auto da Barca do Inferno.

Não se embarca tirania neste batel divinal, está o anjo a dizer neste momento diante da nossa consciência, também ela a entrada de um edifício. Avançamos ou ficamos já aqui? Que resposta lhe daremos?