Caminhos Literários
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Caminho de Memórias

Junto a este ponto, realiza-se, todos os domingos de manhã, o mercado Semanal de Santa Clara.

Também poderá fazer um piquenique neste agradável parque.

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[Onde, José Luís Peixoto]

O Sardoal estava aqui antes de todos nós, mesmo antes do mais velho entre os mais velhos. Esta abstração é tão concreta como o papel, a voz ou a pedra debaixo destas palavras, como o tempo em que estas palavras são lidas. Num instante tão real como este, nasceu o mais velho de todos. Não possuímos essa memória, não estávamos cá, nem ele próprio guarda uma imagem nítida, estava ocupado, mas já havia gente com a idade que ele tem hoje e, mesmo esses, eram garotos quando comparados com o Sardoal.

Também por isso, o Sardoal recebe-nos no seu espaço e na sua história. Ao avançarmos pelos seus inúmeros caminhos, fazemos parte do seu corpo material e imaterial, cartografia e experiência. É assim entre o início e o fim de cada rua. A linha que cada rua traça é a materialização de uma vontade. Alguém quis ir de um ponto a outro e, ao dar direção a esse desejo, deu-lhe também forma. Desde então, ao longo de séculos, ao longo de gerações que chegam até aqui e nos incluem, essa vontade foi renovada sempre que alguém quis fazer o mesmo percurso e seguiu por essa rua, confirmando-a.

O Sardoal espera sem pressa por todos os que hão de vir. Foi assim também connosco. Houve um tempo enorme em que ainda não estávamos cá, também então passavam dias, todas estas ruas existiam aqui. Enquanto não chegámos, o Sardoal esperou por nós.