

Biblioteca Municipal António Botto
- Abrantes
- 39.460786N, 8.197786W
O texto de José Luis Peixoto remete-nos para o imaginário da leitura. Entre no mundo de Botto e visite a biblioteca, projeto arquitetónico de Duarte Castelo Branco, que transformou uma parte do antigo Convento de S. Domingos, num espaço de informação, cultura e educação permanente.
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A biblioteca está a ver-te. A partir das janelas abertas, esse olhar não te larga, fixa cada um dos teus movimentos, até os mais ínfimos: o peito a encher-se e a esvaziar-se, o ligeiro tremor com que te firmas nas pernas. Existes no olhar da biblioteca, da mesma maneira que estas palavras existem no teu olhar. És uma figura ao longe e, no entanto, como nas plantas deste jardim, nas folhas das árvores antigas ou nas ervas fortuitas, há veias e artérias que te atravessam. A biblioteca quer aprender tudo o que sabes, escuta cada um dos teus pensamentos, até os mais secretos. Essa é a matéria dos livros que a preenchem, livros que te esperam nas suas prateleiras, livros que estão agora a ser lidos por outros. Num poema, António Botto escreveu exatamente aquilo em que estás a pensar neste momento. Um dia, haverás de lê-lo e, então, sem que saibas explicar porquê, esses versos farão um sentido absoluto, como uma verdade gravada na pedra.
Mas agora estás aqui, és uma figura ao longe. A tua pele são as tuas paredes, como as paredes da biblioteca são a sua pele. As prateleiras de livros são as suas veias e artérias. Através delas, fluem palavras como sangue ou seiva, são a transcrição literal dos teus pensamentos. A biblioteca está a ler-te. Tu és a biblioteca da biblioteca.
Ali ao lado, completamente em simbiose, a “catedral” da arte e da arqueologia (O MIAA - Museu Ibérico de Arqueologia e Arte), casa da memória e dos olhares sobre o futuro. O claustro que une os dois espaços transporta-nos para uma época em que havia tempo para cuidar do horto e do jardim. Vale uma visita com tempo.
No exterior, duas peças artísticas. A escultura “Intermezzo” que representa a serenidade da figura feminina tão presente na obra de Santos Lopes e o monólito com as palavras de José Luis Peixoto.
Como dizia António Botto, "O mais importante na vida é ser-se criador - criar beleza".