Baloiço Panorâmico

Enquanto estamos aqui, rodeados por esta paisagem, existem pequenos círculos pretos onde cabe tudo isto. Estamos dentro das nossas pupilas. Estamos para- dos, damos um passo, e levamos as pupilas connosco, no centro do brilho dos olhos. Mesmo quando não nos lembramos da sua existência, são elas que nos oferecem os detalhes do que está próximo, as linhas mais finas da palma das mãos, e também o que está longe, a última casa do Vale das Mós. A paisagem, que parece crescer a partir de nós, que parece emanar do que tocamos, afunila-se até passar inteira pelas nossas pupilas.

Podemos dividir a realidade em dois: existe o mundo e existe o nosso corpo. Se o mundo nos rodeia, tudo isto, as casas e os campos, os tons do céu e os aromas da terra, nós somos um mundo dentro do mundo. Por isso, quando subimos ao baloiço e lhe damos movimento, mais, cada vez mais, seguindo um arco, cada vez mais, é possível que seja a paisagem que balance. Talvez o nosso corpo, a posição exata das nossas pupilas, esteja imóvel e seja o resto da realidade que se agita diante de nós. Os pensamentos são possibilidades, é isso que são: os pensamentos são possibilidades.

Talvez a vida desta paisagem, as muitas histórias desta terra, as estações destas hortas, se renovem perante as nossas pupilas fixas, apenas em observação. Então, o trabalho de viver pertence ao mundo e, nesse caso, as pupilas, pequenos círculos pretos, são os pontos fundamentais que articulam toda a geometria.