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Aldeia do Pego

Estamos no Pego, aldeia das casas baixas, junto ao Largo do Cruzeiro, antigo Sobral, para observar a pia dos burros, onde estes bebiam e alguns humanos evocam banhos indesejados.

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[Onde, José Luís Peixoto]

Às vezes, o orgulho é uma herança, respeito pela história que nos faz ser quem somos, que nos trouxe ao instante preciso em que estamos. Os pegachos receberam estas ruas para serem crianças e, depois, para as honrarem com a força do orgulho ao longo de toda a vida. Cada pedra do Largo do Cruzeiro representa uma pessoa que está neste momento a pensar no Pego. São como estrelas espalhadas no mundo, pegachos que tiveram de partir para mondas ou ceifas, e mesmo gente que nunca cá veio, mas que escutou o orgulho com que os pegachos falam da sua terra.

A aldeia do Pego é a origem do que mais importa, visível como o despique das saias ou o fandango, invisível como a maneira de falar com que os vizinhos se cumprimentam a cada passo, a pronúncia das palavras nas conversas de família, como música pegacha ou a ponta mais profunda da raiz. Nos dias de petisco e em todos os outros, o orgulho dos pegachos é um exemplo.

Até o mais pequeno detalhe da aldeia foi moldado por antepassados que nos observam desde o interior do tempo, avós antigos que se esmeraram para deixar o brio com que estamos aqui, casas baixas que ganham valor nos grandes sacrifícios do povo, no amor do povo, que é o mais ilimitado que existe.

Num passeio pela aldeia destacam-se ainda fachadas decoradas com baixos-relevos, poiais e a decoração de algumas chaminés, bem como a igreja paroquial dedicada a Santa Luzia e o seu fontanário.

Mas são as pessoas e as tradições pegachas que marcam: o falar típico, artesanato como os palmitos e os registos (aqui conhecidos como santinhos), trajes e folclore (como o fandango e as saias), a subsistência de ofícios como corticeiro e carvoeiro.

O Pego é sobretudo uma Meca de gastronomia tradicional, onde migas carvoeiras e bucho e tripas fazem as delícias dos visitantes. O ambiente festivo e fraternal dos petiscos à quarta-feira, a que os pegachos chamam ir ao bucho, é imperdível.